sábado, 29 de janeiro de 2011

Conta Duzão.... Abre o bico companheiro!



A honra de um homem destemido vale mil vezes mais que qualquer juiz, deputado ou empresário corrupto. Como disse o mestre, mil cairão ao seu lado, dez mil à sua direita, mas tú não será atingido. Para quem acha que parece bobeira, espere seus últimos minutos de vida, quando estiveres prestando contas no silêncio de sua consciência.

Honra, virtude dos íntegros!
Honra é virtude, regra de conduta, segundo os princípios morais mais elevados, companheira inseparável da verdade.

Honrar é demonstrar profundo respeito pelo semelhante. É a forma de tratamento que devotamos as pessoas que respeitamos. É não fraudar, mentir ou subornar. O substantivo honra expressa o resultado da maneira como vivemos.

Da pessoa honrada se diz acreditada, íntegra e confiável, tida no mais alto conceito em tudo que é considerado certo, especialmente nos negócios.

Surge o argumento das leis. Há um provérbio latino que interroga de que valem as leis sem os costumes? Lei forte passa-se por baixo, lei fraca por cima - é a cultura da burla. Rui Barbosa, do alto de sua grandeza moral e inteligência, foi soberbo e definitivo: “leis que não protegem nossos adversários não podem nos proteger.”

Ninguém é honrado se convive com abusos. Abusar é a prática – pessoa física ou jurídica – apesar de haver quem defenda regras para os outros, exceções para nós, versão do conhecido jargão para os amigos os favores da lei, para os adversários, seus rigores.

As faltas de clareza nas atitudes e decisões não recomendam bem. Há uma quebra importante da confiança e harmonia, decorrente do clima de subterfúgio que estabelece. Existe inclusive, no que concordamos, significar o emblema da fraude, do errado que se quer ocultar, da corrupção.

Vivemos com honra quando nos mantemos fiéis ao que acreditamos ser certo. Honramos nossa família, nosso país, nossa empresa, quando somos fiéis àquilo que mais representam. Favorecemos nossa honra quando aceitamos e assumimos responsabilidade pessoal pelas nossas ações.

Ser honrado não é o mesmo que receber honrarias. Ser é virtude, predicado, conquista, mérito. Receber depende dos outros, concessão, nem sempre meritória.

Honra sendo virtude tem seus limites. Ninguém tem compromisso com erros, equívocos, abusos, o possessivo ou a ineficiência. São momentos de grandeza onde somos obrigados, muitas vezes, a trocar ou negar algo de histórico ou tradicional que se deteriorara, precisa ser substituído. Afinal, os bons costumes e as boas práticas assim recomendam.

Honra é o sério e o romântico - a poesia da vida!

“Quando se chega ao ápice do poder, existe o perigo de acreditar, capaz de fazer qualquer coisa que deseje, admitir que todo ponto de vista pessoal é necessariamente aceito ou pode ser imposto ao conjunto social”.

Aucélio Gusmão


‎"Se você perdeu dinheiro, perdeu pouco. Se perdeu a honra, perdeu muito. Se perdeu a coragem, perdeu tudo."
- Victor Hugo

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

PARASITAS DA FÉ




Lixo deve ser jogado no lixo!
Não vislumbro ilusões celestiais e sonhos utópicos alem morte, sei que para o embaixo vou e responderei por todos os meus pecados, pois assim a Lei determinou.
Pois saibam que após ser esgotado de meus desequilíbrios as trevas será minha morada e por escolha minha, saciarei minha sede, destes vermes fracassados e insignificantes que usam a bandeira da religião, seja ela qual for, em abusar, manipular e extorquir a Fe de seus semelhantes.
Ignorem-me e não cruzem meu caminho, pois sua sorte é que vivemos neste plano regido pela lei dos homens e devemos honrar mesmo que em desacordo. Agora no inferno, lhes ofertarei meu hálito gelado e prazer em lhes ofertar desespero.
Que assim seja e assim será!
A luz não usa do homem, para tocar seu coração, você e a luz, abra a porta!


GUTO CORSO

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Tênis x Frescobol




Depois de muito meditar sobre o assunto concluí que os casamentos são de dois tipos: há os casamentos do tipo tênis e há os casamentos do tipo frescobol. Os casamentos do tipo tênis são uma fonte de raiva e ressentimentos e... terminam sempre mal. Os casamentos do tipo frescobol são uma fonte de alegria e têm a chance de... ter vida longa.

Explico-me. Para começar, uma afirmação de Nietzsche, com a qual concordo inteiramente. Dizia ele: ‘Ao pensar sobre a possibilidade do casamento cada um deveria se fazer a seguinte pergunta: ‘Você crê que seria capaz de conversar com prazer com esta pessoa até a sua velhice?\' Tudo o mais no casamento é transitório, mas as relações que desafiam o tempo são aquelas construídas sobre a arte de conversar.’

Xerazade sabia disso. Sabia que os casamentos baseados nos prazeres da cama são sempre decapitados pela manhã, terminam em separação, pois os prazeres do sexo se esgotam rapidamente, terminam na morte, como no filme O império dos sentidos. Por isso, quando o sexo já estava morto na cama, e o amor não mais se podia dizer através dele, ela o ressuscitava pela magia da palavra: começava uma longa conversa, conversa sem fim, que deveria durar mil e uma noites. O sultão se calava e escutava as suas palavras como se fossem música. A música dos sons ou da palavra - é a sexualidade sob a forma da eternidade: é o amor que ressuscita sempre, depois de morrer. Há os carinhos que se fazem com o corpo e há os carinhos que se fazem com as palavras. E contrariamente ao que pensam os amantes inexperientes, fazer carinho com as palavras não é ficar repetindo o tempo todo: ‘Eu te amo, eu te amo...’ Barthes advertia: ‘Passada a primeira confissão, ‘eu te amo\' não quer dizer mais nada.’ É na conversa que o nosso verdadeiro corpo se mostra, não em sua nudez anatômica, mas em sua nudez poética. Recordo a sabedoria de Adélia Prado: ‘Erótica é a alma.’

O tênis é um jogo feroz. O seu objetivo é derrotar o adversário. E a sua derrota se revela no seu erro: o outro foi incapaz de devolver a bola. Joga-se tênis para fazer o outro errar. O bom jogador é aquele que tem a exata noção do ponto fraco do seu adversário, e é justamente para aí que ele vai dirigir a sua cortada - palavra muito sugestiva, que indica o seu objetivo sádico, que é o de cortar, interromper, derrotar. O prazer do tênis se encontra, portanto, justamente no momento em que o jogo não pode mais continuar porque o adversário foi colocado fora de jogo. Termina sempre com a alegria de um e a tristeza de outro.

O frescobol se parece muito com o tênis: dois jogadores, duas raquetes e uma bola. Só que, para o jogo ser bom, é preciso que nenhum dos dois perca. Se a bola veio meio torta, a gente sabe que não foi de propósito e faz o maior esforço do mundo para devolvê-la gostosa, no lugar certo, para que o outro possa pegá-la. Não existe adversário porque não há ninguém a ser derrotado. Aqui ou os dois ganham ou ninguém ganha. E ninguém fica feliz quando o outro erra - pois o que se deseja é que ninguém erre. O erro de um, no frescobol, é como ejaculação precoce: um acidente lamentável que não deveria ter acontecido, pois o gostoso mesmo é aquele ir e vir, ir e vir, ir e vir... E o que errou pede desculpas; e o que provocou o erro se sente culpado. Mas não tem importância: começa-se de novo este delicioso jogo em que ninguém marca pontos...

A bola: são as nossas fantasias, irrealidades, sonhos sob a forma de palavras. Conversar é ficar batendo sonho pra lá, sonho pra cá...

Mas há casais que jogam com os sonhos como se jogassem tênis. Ficam à espera do momento certo para a cortada. Camus anotava no seu diário pequenos fragmentos para os livros que pretendia escrever. Um deles, que se encontra nos Primeiros cadernos, é sobre este jogo de tênis:
‘Cena: o marido, a mulher, a galeria. O primeiro tem valor e gosta de brilhar. A segunda guarda silêncio, mas, com pequenas frases secas, destrói todos os propósitos do caro esposo. Desta forma marca constantemente a sua superioridade. O outro domina-se, mas sofre uma humilhação e é assim que nasce o ódio. Exemplo: com um sorriso: ‘Não se faça mais estúpido do que é, meu amigo\'. A galeria torce e sorri pouco à vontade. Ele cora, aproxima-se dela, beija-lhe a mão suspirando: ‘Tens razão, minha querida\'. A situação está salva e o ódio vai aumentando.’

Tênis é assim: recebe-se o sonho do outro para destruí-lo, arrebentá-lo, como bolha de sabão... O que se busca é ter razão e o que se ganha é o distanciamento. Aqui, quem ganha sempre perde.

Já no frescobol é diferente: o sonho do outro é um brinquedo que deve ser preservado, pois se sabe que, se é sonho, é coisa delicada, do coração. O bom ouvinte é aquele que, ao falar, abre espaços para que as bolhas de sabão do outro voem livres. Bola vai, bola vem - cresce o amor... Ninguém ganha para que os dois ganhem. E se deseja então que o outro viva sempre, eternamente, para que o jogo nunca tenha fim...

Rubem Alves