domingo, 15 de agosto de 2010

QUANTO É O BASTANTE?



O jornal O Dia, do Rio de Janeiro, faz uma reportagem sobre corrupção e conclui que R$ 690 BILHÕES saíram dos cofres públicos, surrupiados pela corrupção.
O ex-ministro Aníbal Teixeira, em seu livro Reengenharia no Governo, também faz as contas: anualmente, o Brasil perde mais de 40 BILHÕES DE DÓLARES em corrupção e desperdício.
A revista Carta Capital, em 24 de julho de 1996, afirma, em texto de capa, que “a legislação em vigor favorece a corrupção” e abre a manchete, com grandes letras brancas sobre fundo negro: “ROUBEM À VONTADE”. (De 1996 para cá, portanto, nada mudou...).
Por sua vez, a Transparência Brasil anunciou, em abril de 2004, os resultados de pesquisa realizada entre empresas privadas sobre corrupção no país. Os resultados são de doer. Veja alguns deles:
a) cerca de 70% das empresas afirmam gastar até 3% de seu faturamento com o pagamento de PROPINAS. Para 25%, esse custo situa-se entre 5% e 10%;
b) metade das empresas participam ou já tentaram participar em licitações públicas. Destas, 62% já foram sujeitas a pedidos de PROPINAS;
c) 21% das empresas afirmam que a CORRUPÇÃO é aceita sem qualquer contestação.
Televisões utilizam microcâmeras e em diversos pontos do país flagram políticos em atos vergonhosos de recebimento de dinheiro vivo ou acertando propinas em atos claros de corrupção.
A todo instante os grandes veículos nacionais de comunicação trazem em destaque o assunto “corrupção”. As televisões mostram a nojeira dos escândalos dos políticos bandidos (ou bandidos políticos?) em todo o país. As revistas Veja e Época dão capas falando de políticos e corrupção como se estas duas palavras fossem uma só e mesma coisa. No dizer das revistas, os políticos são uma "praga", "deputados chantagistas, prefeitos ladrões e funcionários públicos desonestos"... Tempos atrás, a Veja trouxe uma capa com ilustração que mostrava uma saúva alimentando-se de uma cédula de 50 reais. No texto: a “corrupção e inépcia nas prefeituras desviam MAIS DE 20 BILHÕES DE REAIS POR ANO”. O título é bem apropriado: “UMA PRAGA NACIONAL”.
Quanto é o bastante para esses prefeitos, deputados, políticos com mandato e funcionários públicos se contentarem e largarem de roubar o povo? Quanto é o bastante para os políticos ficarem ricos, comprarem seus carros, suas fazendas e lojas, ampliarem seu patrimônio em geral?
Quanto é o bastante em gente morrendo por falta de alimento, saúde, segurança, pois que o dinheiro para isso está sendo desviado?
O pior câncer do Brasil não é o de medula óssea nem o de próstata nem o de útero ou de mama. É o câncer moral, a falta de caráter, o cinismo e a hipocrisia associada à arrogância e à impunidade. Tudo isso junto forma uma gosma eticamente imunda, uma meleca moralmente podre, pregando-se e sujando as nobres funções públicas de administrar o bem comum, o bem para todos.
Quanto é o bastante para o descaramento político? Quantos “esquemas” imorais, quanto mau uso da Imprensa, atormentada pela sedução de um patrocínio, uma publicidade, enfim, uma verbinha, um dinheirinho a mais?
Quantos fingimentos na tela... Quantos acumpliciamentos nas colunas de jornais... Quanto é o bastante para essa contaminação viciosa da política ser abandonada e o jornalismo ressurgir como “quarto poder” e não como “quarto do poder”?
Por que os que, no início de sua história, que não tinham nada e hoje têm muito, por que sequer agradecem a Deus, e ainda querem mais, roubar mais, poder mais, corromper mais? Quanto é o bastante? A quem pensam que estão enganando?
Quanto é o bastante para ser feliz? Quanto é suficiente para dedicar-se um pouco ao outro e auxiliá-lo na busca da própria felicidade ou na redução de suas necessidades?
O prefeito ladrão, o político corrupto, estes são os piores bandidos de uma nação. São genocidas, matam em grande quantidade. Esses devem ir para o nono e último nível do inferno, pela classificação de Dante Alighieri.
Todos os desastres, estragos e mortes por causa de buracos nas estradas e nas ruas -- o culpado é o político que rouba.
Todos os olhares tristes de meninos do buchão, anêmicos, cabelos desgrenhados, com dedo na boca, remela nos olhos e catarro no nariz -- o culpado é o político corrupto.
Todos os analfabetos e alfabetizados que não sabem ler, entender e responder um simples bilhete -- o culpado é o prefeito ladrão.
Todo professor, médico, policial e militar mal-remunerado tem por carrasco um governante mal-intencionado.
Todo político é culpado do bem que não fez.
Em vez de estar dando entrevista na TV, esse político deveria estar prestando depoimento na Polícia. Em vez de seu nome em placas de obras superfaturadas, deveria estar com o corpo em celas superlotadas. Em vez de estar em gabinete que é um luxo, deveria estar na cadeia que é um lixo.



Lixo moral e lixo material, enfim, juntos.


EDMILSON SANCHES

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